sexta-feira, 14 de abril de 2017

Felicidade Clandestina, Clarice Lispector...

Senhoras. Senhores.

Bom dia/tarde/noite; sejam bem vindos. E olha nós, onde cá estamos, mais uma vez, para tratar de assuntos – importantes? Sim, importantes – do blog.

Hoje é dia de literatura brasileira e, como não trabalhamos ainda nada do feminino, trazemos aqui, a nossa mais que humilde esteira de discussões, o conto “Felicidade Clandestina”, de Clarice Lispector, o primeiro conto contido no livro de mesmo título.

Da espécie livro que nos chegou às mãos só temos o que agradecer: santa arrumação em nossa casa que nos fez descobrir essa jóia literária e familiar. Sim; o texto encontrado foi impresso pela Editora Vozes para a Editora Nova Fronteira S.A., em abril de 1989.

E sim; o livro encontrado encontra-se assinado, no mês dez de 1990, por uma amiga pessoal de nossa mais que queridíssima e saudosa irmã, Adriana Borges; hoje, moradora de nossos corações, e bons pensamentos.
Beijos Niãna...

Passado o inevitável momento dos sentimentos, breve comentário do conto...

Pense em duas meninas: Uma e Outra.
Pensou? Ok.
Vamos brincar aqui...
Era uma vez Uma e Outra.
Uma, é feia; Outra é bonita.
Mas Uma é filha de dono de livraria.
Lógico que Uma tem, e não quer dar, um livro, que a Outra quer.
Não quer dar; mas não quer que a Outra desista.
Trocando em miúdos: Uma quer pirraçar a Outra.

Até que um dia Uma é obrigada a dar o tal do livro a Outra.
E Outra? É feliz com o livro? Não; a Outra é feliz com o seu amante.
E fim de papo.
Chega!
Deixa a vida umas e outras...
Ou não... Rsrs...

Agora, as nossas – mais que humildes – impressões...

Ao nos aventurarmos a fazer qualquer que seja leitura de Clarice Lispector o que nos salta aos olhos é sempre a tal da perturbação psicológica. Impressionante como é presente a dimensão mental de cada personagem apresentado por essa ventríloqua. Não só os personagens, nós, leitores também somos manipulados, levados na onda de fumaça.

E por falar em manipulação pense bem nessa palavra ao longo desse conto. Pois é o que mais nos é trazido, na narrativa de uma moça, que conhece outra sujeita; não tão bela, de enorme busto, e com os bolsos cheios de balas.

Acontece que essa sujeita é filha de um dono de livraria, e promete emprestar a personagem principal um livro que lhe é de muito interesse. No dia do empréstimo; pena: esqueceu o compromisso com a amiga e, sem-querer-querendo emprestou a alguém.

No outro dia? Outro problema, outro esquecimento. E outro e outro e outro, e tome-lhe volta. Assim segue-se a tortura chinesa, segundo a narradora. Aqui em Salvador, diríamos “baratino”...

Belo dia, durante a entrevista que se findaria com mais uma injeção na testa, a mãe da dona do livro chegou; quis saber o que havia para as sucessivas visitas. Sabido do assunto; pasmem: meu Deus criei um monstro, pensou a mãe.

Bomba: o livro sempre estivera lá. Duas descobertas conflitantes: a personagem principal; de que estava sendo feita de trouxa; e pior: da mãe, de que tinha uma filha que operava em sadismo silencioso a duzens-zi-vinte voltz, com bordas, para não falar requintes, de psicopatia.

Que beleza de ser humano hein? Sádica, psicopata; perversa e indiferente.
E olhem que chupava doces o dia todo viu?
Magine se fosse chá de boldo...
Ela ia ser o satanás de toca...

Uma solução tinha de ser dada àquela situação gravíssima, mas não se confundam, a mãe também não é santa: há que se solucionar o caso. Não por compaixão da menina anônima plantada no portão, mas sim a perversidade da filha. Descobrir que um filho seu age dessa maneira é realmente revelador.

Batido martelo: estava obrigada a dar o livro, e outra teria o direito de ficar com o dito cujo por quanto tempo quisesse.
Ouviram? Quanto tempo quisesse...
Era lindo...

E assim segue-se a vida da moça, feliz; como gente no luxo; como pinto no lixo. Weba! Ela curte; ela brinca, ela esquece de propósito para depois reencontrar o tal do livro; a felicidade consubstanciada no objeto retirado da menina má.

Uma interessante alegria, notável estado de êxtase; uma – como muito bem posto no título – literal felicidade clandestina. Felicidade que catalisou, subiu, e elevou o objeto ao estado de pessoa.

Elevou-se a ponto de fazer a moça ver-se não mais como uma menina com um livro: uma mulher com seu amante. Essa foi a outra marca que Clarice nos deixou: a da subversão.

Em geral se flagra na sociedade, sempre, fortes sintomas de deploração dos valores éticos e morais, o que chamamos de coisificação das pessoas. Em Graciliano, por exemplo, isso é muito freqüente. Graciliano só pa-variar.

É possível levantarmos a pergunta de que Clarice fez aqui o processo inverso: que ela operou, então, a personificação da coisa, no caso o livro, transformando-o em amante? Acho valido pensar assim...

Não precisa dizer que o embate entre as anônimas – daí “Uma & Outra” – fica muito mais do que recomendado né?

Nota mais que dez...

Não tínhamos tido experiência de leitura com Clarice; mas agora, parece que a coisa vai se dar de vento em polpa. E que venha, daí, uma amizade sincera. É o nome do conto seguinte, rsrsrs...

Se formos fazer uma análise mais que simplista do que se pode ser entendido até como um conto infantil dessa escritora de mega-calibre, veremos que quem sabe, sabe; que quem é grande é grande; e faz coisas grandes, mesmo que o fato seja uma besteirinha, como uma broma de meninas adolescentes; mesmo que seja o embate entre uma que quer, outra que não quer dar, mas quer que a outra queira...

Mara...

Até a próxima.

Forte abraço.

Atenciosamente;

Emerson.

Valeu Niãna...

2 comentários:

  1. Me diverti bastante!!!
    ...Como sempre digo, sua escrita é massa!
    Curti!

    Salve Lispector. :)


    Lai

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    Respostas
    1. Woopa!
      Obrigadão Alah, gracias!
      Valeu mesmo, estamos sempre gratos pela sua leitura e pelos elogios e incentivos.
      Salve a Clarice sim...
      Abraço;

      Emerson...

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