sexta-feira, 12 de maio de 2017

Capas Inspiradoras...

Senhoras. Senhores...

Bom dia/tarde/noite; a depender do momento que estejas lendo.

Esperamos que gostem da encomenda desta data que se segue...

Hoje é dia de trazer aqui a capa que inspirou a série “Capas Inspiradoras” destas postagens do blog.

Hoje, este humilde espaço tem a honra, e o orgulho, de trazer à luz a capa do melhor cd de Rap, em nossa opinião; um dos primeiros discos duplos deste segmento artístico; Direto do Campo de Extermínio, do grupo Facção Central.

As produções, de sentido; possibilidades de leitura são tantas quando observamos essa capa que, hoje, estrategicamente, resolvemos nos limitar a alguns mini-comentários sobre esta obra-prima do Rap.

Sem muita conversa; vamos logo...
Ao que interessa...
Aos sentidos...


A principal idéia do título nos faz atingir concepções filosóficas. Convenhamos: uma pomba branca, morta, decaída, no chão, suja de sangue, pode significar muita coisa.

A gravidade do texto imagético não se pode passar em branco às nuvens. A pomba branca é um tradicional símbolo carregado, em diversas crenças, do sentido de paz.

Na esfera religiosa, simboliza o espírito santo. Na santíssima trindade, traz o sentido de paz, simplicidade, pureza, harmonia, esperança e felicidade.

É advertido, em escrituras sagradas: pode-se xingar, e haverás perdão, a Deus; mas não se pode xingar o espírito santo. Vejam...

Um marco de esperança para a humanidade: Noé lançou ao céu; e esperou o retorno de uma pomba, para saber se o dilúvio havia sido vencido.

Ela voltou, com um ramo de oliveira no bico; e assim a boa mensagem havia sido trazida: a Terra estava pronta para ser, e foi, repovoada.

No âmbito antropológico, a idéia da morte simbólica da paz está mais que clara, só ao visualizar a imagem, mais do que expressiva.

Mas, algo que precisa ser apontado é que há sinais flagrantes de que esse pensamento; essa visão já vinha sendo trabalhada no disco anterior; em “A Marcha Fúnebre Prossegue.”. Sim; observe conosco.

Há uma música – O Show Começa Agora – na qual é categórica e explicitamente cantado que “sua pomba branca está sangrando num barraco”.

Sem mencionar a vinheta de fechamento do mesmo álbum; onde é dito que “a paz tá morta; desfigurada no IML, sangue no chão, revolver na mão, infelizmente a marcha aqui prossegue.”.

Flagramos em outra oportunidade; em um trecho de outra canção – Discurso ou Revolver – algumas falas interessantes; do tipo: “ser exterminado como judeus em Auschwitz; mostrar pra Globo o que é viver no limite. A cruz da Atlanta queimando na sua frente; a SS agora veste o cinza da PM”. Sintomático, não?

Ou, também muito explícito: “te dão crack; fuzil; cachaça no boteco; esse é o campo de concentração moderno. Hitler; FHC, capitão do mato, bacharéis em carnificina; mestrado em holocausto”.

Acreditamos que, diante do exposto não é preciso provar mais nada. Está mais do que claro que a ideia foi amadurecendo, amadurecendo; até que se concluiu; e desaguou num disco duplo perfeito; sólido; super comunicativo, desde sua capa, e que se estende por suas vinhetas.

Entrando na questão do imagem mesmo da capa do disco, outro pensamento que nos foi despertado foi o de que a pomba caída é o símbolo da extrapolação da violência. Será que é por isso que temos uma faixa que diz que “deus anda de blindado, cercado protegido por dez anjos armados” e, pasmem, sobre a pomba branca: “tem dois tiros no peito”?

Será?
Eu acredito que sim...

Há, também, neste disco, a possibilidade de leitura de que a periferia é, além de uma detenção sem muro, como foi anteriormente pensado; um campo de concentração, e, ainda mais grave, o titulo já diz, de extermínio. Não à toa a música abre alas chamar-se São Paulo: Auschwitz Versão Brasileira.

Segundo dizem, Eduardo operou em alta, e pessoalmente, na criação da capa deste disco, enfrentando, inclusive, contraposições dentro do próprio grupo.

Seguiu firme em sua idéia, e deu no que deu. Afinal, quando planejamento e coerência caminham de mãos dadas, não há o que temer em termos de resultados finais de nossas tarefas.

Nada; nada foi em vão. Nada; nada foi feito/escolhido sem planejamento e ou critério para este trabalho.
Nada!

E, pasmem, olha que acidente conveniente: foi descoberto por nós que a pomba branca é usada também como sacrifício por judeus pobres. Portanto, abrir o disco com a imagem de uma pomba, pode nos direcionar a idéia de que a fotografia daquela pomba é a prática de um sacrifício feito por um periférico que trazer vários depoimentos.

É o preço a se pagar por poder ter escrito algo tão grandioso.
Será que era sabido o que estava sendo feito? Será? Em O Homem Estragou Tudo há a afirmação de que “Depois da senzala a tortura é na favela. Hitler morreu, mas tô no gueto, judeu da nova era”. Que acidente incrível hein?

Hum...

Demarcada – e muito bem demarcada – a área de atuação, é hora de ir ao interior do disco; onde as vozes dos habitantes dos campos de concentração e extermínio espalhados pelo Brasil dialogam; se apresentam, e representam; como personagens principais deste cenário de ambiente hostil.

Daí ao uníssono polifônico: temos as presenças de um garoto, filho de pai alcoólatra; um menor, constantemente agredido pela mãe; o espectador da violência, sentado no balcão do bar da favela; um dependente químico (crack); um pai explorado pela família; dois garotos, presos, um em extrema riqueza, outro em extrema pobreza, polarizados socialmente; e assim por diante.

Todas as vozes, sendo vozes únicas; cada uma com seu conflito particular, mas, todas elas, sofrendo com o autoritarismo estatal brasileiro, todos habitantes do campo de extermínio moderno; tal como foram os judeus na época da Alemanha Nazista.

Daí a idéia de o ambiente ser polifônico, composto por vozes únicas; e uníssono, composto por vozes que sofrem simultaneamente no mesmo lugar, vítimas da mesma violência, social, cultural, simbólica, física e psicológica do estado; ainda que existam notáveis diferenças entre si.

Eu não vou recomendar, tenho certeza de que não preciso.
Quem leu até aqui, percebeu: somos fãs incondicionais, quase-que fundadores do FCFC (Facção Central Futebol Clube).

E este foi o texto feito para a capa que me motivou a criar a série “capas Inspiradoras”.

Esta é a minha mais deslavada menção honrosa à capa da mais bela obra-prima do rap; em minha opinião, sempre bom repetir.

Viva ao “Direto do Campo de Extermínio”, o disco belo até, e aqui nós nos repetimos, em suas vinhetas; O que os olhos vêem; Reflexões no corredor da morte. “Aqui não tem lista de Schindler com seu nome! Não existe salvação; no campo de extermínio...”.

Hoje, o grupo está muito a quem do que já foi; bem sabemos. 
Contudo, o que foi gerado em memória, bem sabemos nós que deve ser muito; muito; muito; muitíssimo respeitado, por qualquer que seja o sujeito que curta a batida da quebrada, ainda que não curta FC.

Enfim, quando tiverem vontade de falar acerca de Facção Central, podem nos convidar; que nos sentiremos honrados; e iremos gentilmente ao seu encontro.

Esteja você onde estiver, iremos até você para prosearmos à vontade, sem medo, e sem preconceito sobre esse grupo, único, não na música brasileira; no mundo.

O negócio é ter um bom papo, refletir.

Ah: faz um café, por favor...
Nós vamos adorar...

Grande abraço;
Fiquem na mais pura e plena paz;
Segue a capa-imagem da obra máxima do mundo-Rap...

Atenciosamente;

Emerson.


quinta-feira, 11 de maio de 2017

Tensão; Alcatraz...


 Senhoras. Senhores.

Bom dia/tarde/noite, a depender do momento que lês meu texto.
Tudo bem? Conosco tudo bem. Hoje estamos aqui para apresentar pequeno fragmento da série duetos Facção Central.

Iremos nós, hoje, aqui, tentar fazer uma coisa um pouco diferente: analisar duas letras de dois Raps, simultaneamente.

Será que conseguiremos?
Vejamos...
Vem conosco e observa...

Vamos nos inspirar nos dizeres da letra do grupo Titãs: “é caminhando que se faz o caminho”.

Então, sem mais, caminhemos...

Aqui, hoje apresentaremos, analisaremos brevemente e aproximaremos as letras de duas músicas: Tensão, e Alcatraz, presentes, respectivamente, nos discos A Marcha Fúnebre Prossegue, e o Direto do Campo de Extermínio.

Vamos lá...

Ah: avisamos, de antemão, que aqui será seguida a ordem cronológica em nossas análises.

Depois falaremos o porquê de se chamar atenção para isso.
Ok?
Ok...

Então vamos lá...
Tensão no ar...

Essa é a letra da nona música do terceiro álbum do grupo. Em nossa mais que humilde opinião trata-se de uma criação bastante inovadora, importante, e interessante para o mundo do Rap.

Por quê?
Muito simples: o que é feito aqui por Eduardo, ou o locutor do inferno, foi algo até então nunca visto.

Nunca foi observado; por nós, em lugar nenhum do rap a idéia de se fazer uma música, com a idéia de promover o encontro; a aproximação, e a representação vocal, tanto do agressor, um seqüestrador; quanto o da sua vítima, um homem rico.

Ao menos; nós, nós nunca tínhamos ouvido, no mundo do RAP, uma música que fosse feita dessa forma.

No geral o que acontecia era a voz do seqüestrador, sempre imaginando o que sua vítima faz e pensa o que limitava o conflito do encontro desses dois sujeitos de esferas sociais diferentes.

Nessa letra é dada uma voz, uma condição de utente autônomo a esse cidadão, vivido na voz do parceiro Dum-Dum, tendo espaço para suas próprias reflexões.

Muito interessante...
É realmente uma tensão...
Se de um lado temos a idéia consciente de alguém que parece saber ter parcela de culpa na criação do próprio agressor, que te põe a vida por um fio; do outro temos o agressor, que pondera ser ou não lucrativo dar ou não um final dramático a esse encontro.

Querem uma palhinha?

Vamos de refrão então...

O Clima é tenso, a chance é muito pouca;
Vou terminar o dia com um tiro na boca.”

“Sente o ódio do diabo que você ajudou a criar;
Agora, dono do jato, é muito tarde pra chorar!”

Super recomendada...

E fim da parte um...

Aí o tempo passa e o grupo volta no tempo.
Daí o desafio: como seria, então, a infância desses dois rapazes, inimigos desconhecidos, predador e presa, na idade adulta?

Quem são eles, quando pequenos?
O que será que fazem?
Como vivem?

E é exatamente a partir dessa confluência de perguntas coerentes, e motivadoras, que surge a sétima música do “Direto do Campo de Extermínio”; Alcatraz.

Repetindo a fórmula de sucesso no disco anterior, o grupo repete a dose e dá voz às duas faces da moeda.

Daí, ouvimos a narrativa de um menino, rico, na voz de Eduardo. Estranhamente esse garoto é consciente, e questiona-se por que viver em estado de cerceamento, e fechamento, reclusão.

Do outro lado da questão, temos a voz do garoto pobre, que passeia por entre cadáveres na favela; e que teve em um frango assado o seu “melhor almoço. Esmola do padeiro pra eu não olhar pro seu forno.”.

O que se pode entender é que, claramente, nos serve de munição a idéia de que são essas prisões; é esse isolamento sistemático a causa de um resultado trágico, colhida futuramente.

Não à toa a música termina com a afirmação de que “tem um muro de lagrima entre o pobre e boy: do lado dourado cresce a vítima; do vermelho seu algoz”.

Quer mais o quê?

Finalizamos afirmando que as duas músicas são compostas e subordinadas a o que chamamos de técnica da justaposição.

É a técnica na qual a música é dividida de forma justa; seguindo-se com uma estrofe e meia sendo cantada por cada um dos membros do grupo; sem intenção de sobreposição de um integrante a outro. Sol nasce, e brilha, para todos...

Não precisamos dizer que super-recomendamos.

Ou precisamos?

Super-recomendamos, “Tensão” e “Alcatraz”, Facção Central.

Ah: avisamos que íamos seguir a cronologia, por que se optássemos por analisar as crianças para depois os adultos iríamos nos atrapalhar, e sair da ordem dos discos, que, aliás, foi um desafio imposto a nós por nós mesmos.

Desta forma, o leitor mais desavisado fica sabendo a seqüência correta de lançamentos do grupo, enquanto observa as análises de duas músicas, em um só texto.

Essas letras se completam. Fecha-se o símbolo do infinito se a analisarmos lado a lado...

Deixamos como tirinha de experimento, para os senhores, bem oportunamente os refrões.

Eduardo:

“Sonho com a carta de alforria da minha Alcatraz de ouro;
Com a paz,
Sem vigia, nem muro de tijolo.  [duas vezes]

Dum-Dum:

“Sonho com a minha carta de alforria da minha Alcaraz de compensado;
Com a paz,
Sem revolver, nem refém torturado.  [duas vezes]

Isso é sintoma...

Té o próximo encontro meu povo...


Atenciosamente;

Emerson.

Uh-Facçã-ão, Uh-Facçã-ão...



quarta-feira, 10 de maio de 2017

Detenção sem Muro...

Senhoras. Senhores...

Hoje, estaremos aqui, em nossa segunda semana de postagens. A séria prestigiada nesta semana serão letras do grupo de Rap Facção Central.

Hoje, mais especificamente, traremos aqui, para usar como corpo de análise, a da letra oitava faixa do segundo disco da banda.

E, para quem ainda tem alguma dúvida, a resposta é sim. Sim, estamos sim seguindo a ordem cronológica de produção do grupo.

Já temos análise aqui da música “Artista ou não”, do disco Juventude Atitude. Deixaremos link da postagem ao final deste texto.

Sem mais, análise mais que simples da Detenção sem Muro, Facção Central...
A música é a oitava faixa do segundo disco da banda, o “Estamos de Luto”.
O disco traz uma seqüência de letras experimentais, extensas, e com grandes variações, vocais e instrumentais, dentro da mesma música.
Nem todos curtem muito a obra.
Confessamos que também não somos muito afeitos a este trabalho.
Mas essa faixa, uma das mais curtidas, salva o álbum, segundo dizem as más línguas.

O título da música praticamente já nos lança a idéia consideravelmente clara do que segue no conteúdo: a idéia de que a periferia é um espaço de exclusão social, racial; de segregação extrema.

O carcereiro é mencionado, mas de fato não existe, serve apenas como contraponto para as reflexões desse sujeito, em uma situação de extremo conflito.

A música surge como espécie de monólogo de um favelado que, tomado por um golpe de extrema racionalização de si; de fato passa a se enxergar, e entender a sua condição, e razão de existência na sociedade brasileira, que traça, pela loteria do nascimento, o destino destes e daqueles. “Dei falha: nasci pobre; presidiário! Da detenção sem muro”.

Além da perda na loteria do nascimento, há o segundo fator agravante: o fato de que não há a possibilidade de fugir da prisão ideológica.

Como podemos ver em mais dois fragmentos: “encarcerado num caminho sem perspectiva. Eu nasci nisso, vivo nisso, e vou morrer aqui; e até mesmo no inferno essa prisão imaginaria vai me perseguir”. E “por mais que eu corra, nem chego nos muros”.

Com uma fuga praticamente impossível, e sem uma reflexão mais apurada do que é prisão ou não, há a menção de que cada detento tenta suas fugas da forma que bem lhe cabe.

Daí a nossa escolha; ou melhor, única e comum, escolha: morrer tentando. Eduardo no vocal.

“A nossa única escolha é a própria morte!
Ladrão, na mão da polícia; e pobre morre como pobre;
Num barraco semi construído;
Orgulho: destruído;
IML, caixão doado, que final fodido!
É impossível me livrar disso!”

Gostaram?

Imagine a gente.

Imagine a gente, gente, sendo agente a serviço desse grande grupo, viabilizando essa grande letra aqui...

Uma honra...

Fica então aqui a nossa dica, a nossa grande dica mais que grande, dessa obra prima do maior grupo de Rap nacional, em nossa humilde opinião...

Você, que curte Rap, que curte Facção Central, qual a sua música?

Qual a opinião sobre essa discussão?

Critique!

Opine!

Apareça!

Bota a cara Mister Eme...

Sintam-se a vontade para sugerirem qualquer coisa.

A intenção é fazer deste blog um espaço de discussão.

Portanto, sejam bem vindos; vamos bater um papo...

Grande abraço a todos;
Grato desde já,

Emerson.



sábado, 6 de maio de 2017

Tachibana Ukyo


Senhoras. Senhores...

Olá; bom dia, tarde, noite, a depender da hora que estejas lendo...

Por nesses últimos dias termos estudado e observado o estilo artístico conhecido como Ukyo-E, lógico que o nome desse personagem despertou o nosso interesse.

Nós nos lançamos em curta, e insignificante, pesquisa. Quer ver os resultados?

Então senhoras...
Sem horas...
Sem oras...
...

Sem delongas acabamos por descobrir que Ukyo Tachibana é um personagem espadachim introduzido no primeiro, e desenvolvido em edições seguintes do jogo “Samurai Shodown”.

Apesar de ser forte, mas muito mais forte na segunda edição do jogo, é na primeira edição que ele tem papel especial: é arqui-rival do personagem principal, Haomaru, homem que ele quer derrotar, e, pasmem; ficar com a mulher; Oshizu.

Ukyo é o maior gostosão, com comemorações com mulheres aos montes perseguindo-o... Pois é... A (des)grama do vizinho é sempre mais verde, melhor...

E as curiosidades entre Ukyo e Haomaru não param por aí.
O homenageado da vez foi criado para o jogo, tendo como base um samurai que realmente existiu: Sasaki Kojiro, conhecido por ser o mais poderoso rival de, ninguém menos que, Miyamoto Musashi, o maior – nunca derrotado – guerreiro samurai da história.

Então vai uma pergunta oportuna: advinha só quem foi criado baseado em Musashi? Acertou quem respondeu Haomaru.
Aeeeeeeeeeeee!

Nossa! Essa difícil hein? Humm...
Rsrs...

Sigamos...
Em sua jornada, na busca de seu grande momento – a grande luta contra Haomaru – Ukyo vive cada instante como se fosse o último. Isso se dá também pelo fato de o guerreiro estar visivelmente afetado pela tuberculose.

Aproveitamos o gancho para dizer que viver cada momento é a regra mais básica do Ukyo-E. Viu como personagens bons não são batizados a esmo?

A grande espera pela luta contra Haomaru também faz parte. Nada é em vão no Japão: Musashi, no dia da grande luta contra Kojiro, atrasou, propositadamente, por duas horas, o que irritou muito Kojiro, que se sentiu desrespeitado.

Nesse dia, Musashi narra em seu livro que Kojiro acreditou estar lutando duas horas atrasado.

Mas ele não: Musashi entrou na luta desde que esculpia sua espada em forma de remo, ainda dentro do barco; pirraçando seu desafiante. Desta forma, narra, estava no combate duas horas adiante. Atrasou e adiantou...

Outra coisa, real e interessante: Musashi sabia que ia ter de lidar com um adversário perigosíssimo, portador de uma espada enorme, e de uma habilidade ímpar (Kojiro tornou-se super famoso, pois era capaz de cortar uma andorinha em pleno vôo, e veloz; era o que diziam as línguas). Daí a estrategia psicológica.

Quem joga Samurai Shodown II sabe: a espada de Ukyo é do tamanho da desgraça! E nem parece. Claro, esta ilusão de ótica também faz parte do truque dos usuários de IaiJutsu.

IaiJutsu: técnica de luta que o espadachim mantém a espada embainhada, tirando-a somente para golpear seu adversário. Notar o tamanho da espada é quase impossível, se bem usada co idas e vindas corporais.

Diziam as más línguas que Kojiro retirava a espada da aba para aplicar, em seus adversários, somente um golpe. Feito isso, a espada era novamente embainhada; para ser retirada, somente, para mais um, novo, e único, golpe... Lindo... Lindo...

O local de luta é numa ilha, em homenagem ao local onde duelou contra Musashi. Não a toa, Ukyo e Haomaru lutam no mesmo local, com a diferença de que este luta pela tarde, e aquele, pela noite, como já foi dito.

O fato de o som ambiente da maré rasa, no caso de Ukyo; e brava pela tarde, no caso de Haomaru, foi uma sacada de gênio.

Outra coisa que vale a pena salientar: lá, ao fundo do cenário, temos uma Montana parecida, não mais não menos que com o que o que o quê? O Monte Fuji. Isso aí; exatamente...

Fica então a dica, e a relação que essa seqüência de postagens nos fez fazer...

Acaba aqui, a serie “Oriente-se” de maio.

Oriente-se;

Seja na pintura; nos quadrinhos; na literatura, ou nos games: o importante é se orientar...

Falou queridos;

Sem criatividade pa-criar uma palhaçada final e terminar deixando meu visitante com um sorriso no rosto.

Dessa vez vai de qualquer jeito mesmo...

Até a próxima;

Bye...

Atenciosamente;

Emerson.

Ah: já ia esquecendo: íamos até fazer uma postagem sobre Haomaru amanhã, e postaríamos pela tarde. Tudo só para dizer que postamos de Ukyo hoje pela noite, e a dele amanhã, pela tarde.

Mas não faremos isso. É que é mais digno e humilde assumir que nós nos atrasamos nessa postagem mesmo...

Kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk

Olha aí...

Consegui...

Apesar de atrasos propositais irritar seriamente o nosso homenageado da vez; existem coisas que não tem como manipular...

Fila de pão por exemplo...

Foi mal Kojiro

Bye-bye-Baby...

Té-Mais...


sexta-feira, 5 de maio de 2017

O Nariz; Akutagawa Ryunosuke


Senhoras. Senhores.

Bom dia/tarde/noite. No breve texto que se seguirá, faremos; ou tentaremos fazer; um breve comentário sobre O Nariz; terceiro dos onze contos presentes nesse livro de capa já tão conhecida – é o terceiro bate-papo sobre ele – pelos modestos, mas mais que valiosos visitantes que dedicam alguns minutinhos de seus dias para aqui pousarem seus olhos. Obrigado a todos vocês; de coração mesmo...

Isso justifica o porquê de a imagem final não ser mais a capa desse livro, velho conhecido de todos, ok? Pois-sim...

O livro, como bem sabemos, foi publicado pela editora Estação Liberdade, no ano de 2010. Tradução; prefácio; foram de responsabilidade de Shintaro Hayashi.

Breve resumo...

Era uma vez, em determinado templo japonês, um importante monge, com um nariz enorme. O budista de alta patente – naigu – tinha um nariz enorme, e não se importava com isso. Mas será mesmo?

Depois de algumas tentativas por soluções físicas e psicológicas, há que se chegue ao tal buscado remédio. Mas será?

Determinado instante, depois de muito sofrer por conta do desconforto facial que o tornava único no mundo – um nariz similar a uma salsicha, ninguém merece... – eis que surge a grande solução, trazida por um discípulo. Ma-será mesmo solução?

Um conflito se estabelece.

Algo estranhamente interessante ocorre: logo quando se torna normal algo estranho se sucede?

Curioso isso...

O que é o normal então?

Acreditamos que com esse resumo, com cara de mais porvir impossível, já possamos nos iniciar informando que o conto é interessantíssimo por colocar diante do leitor a tão corriqueira situação de choque entre o que se entende por normal e estranho.

Em sua jornada pessoal, o narigudo naigu vivia em um templo, com seus companheiros. Sim; tinha um aparelho nasal cavalar – seis ou sete polegadas acima do lábio superior até abaixo do queixo. Mas, para todos os efeitos, aparentava não se importar nem um pouco com isso. Aparentava...

Percebemos que além da perturbação física, e incômodos diários – tinha de erguer a lapa de nariz para as refeições – seu nariz o causava incômodo na esfera psicológica. Queria ser normal, embora fingisse que não.

Em sua grande busca para se mostrar uma pessoa comum, ao menos para si, o monge buscou incansavelmente em outras pessoas, e por outras personalidades religiosas antigas, um nariz que casasse com o seu.

Até a mitologia foi acessada. A realidade, e a ficção, foram duras com ele: sim; de fato; narizes aduncos existiam, tanto na vida real quanto nas escrituras sagradas; mas... Tucano humano? Só ele, mesmo; até então...

Até que um dia, depois de passar por uma fase triste, cabisbaixo, macambúzio, com pé quebrado, eis que a alegria surge! O remédio chegou!

Um discípulo lhe traz uma solução para seus problemas. Simplesmente adoramos o fato de o monge alegar que não tinha tanto interesse assim em mudar; só cedendo depois da insistência do seu subordinado.

Ok, a mudança se estabelece. A normalidade chegou! É época de sorrir, de comemorar...

Porém, algo estranho ocorre: como assim? como assim depois de ser único no mundo, ter que se acostumar a ser um somente mais um Np planeta Terra?

Um reles mortal; simples normal; não-ladrão de oxigênio...
Os olhares, normalmente estranhos, tornam-se agora, estranhamente, estranhos.

Como bem dito nas próprias linhas da narração, “Dois sentimentos contraditórios habitam o coração dos seres humanos. Por certo há quem deixe de se compadecer pela infelicidade de uma pessoa. Porém, se essa felicidade for superada de alguma forma, isso produz naqueles ao seu redor uma espécie de insatisfação.” (pág.105).

Que coisa mais doida não?

Que EstranhaMente temos aqui...

Novo conflito se estabelece.
Também pudera. Se ser estranho é ser diferente do normal; há que se entender que devemos buscar o normal.

Mas, e se, ao se tornar normal, ao invés de se tornar normal de fato, o sujeito se tornar ainda mais estranho, por ser, em sua comunidade, reconhecido normalmente por ser estranho?

O que fazer?

Deu pa-me-entender?

Daí; ficam as perguntas:

O que é o ser normal afinal?

O que é ser estranho?

Ser normal é nascer normal?

E ser estranho é nascer estranho?

Nascer estranho; e morrer estranho é normal?

Nascer estranho, e se tornar normal, é estranho?

E aí? O que você quer dos outros, mundo cruel?

Que estranhaMente nós temos né?

Voltemos...
E assim segue o nosso bom monge anônimo, como qualquer vítima de uma interpretação de mundo; como nós todos somos e agimos; em sua brusca busca pela normalidade...

Pela sua normalidade...
Paramos por aqui...
O conto vale a pena; o livro; o livro vale a pena...
Então fica aqui mais uma dica de leitura para quem quer variar no repertório de leitura artística.

Você está muito bem servido com o tom, o dom, o som artístico, do bom, Akutagawa Ryunosuke.

Super-recomendado!

Atenciosamente;

Emerson.

Ah: aviso aos normais: deixem os estranhos viverem em paz.
Não metam o nariz na vida alheia...

Té-Mais...