Senhoras. Senhores.
Bom dia/tarde/noite. No breve texto que se
seguirá, faremos; ou tentaremos fazer; um breve comentário sobre O
Nariz; terceiro dos onze contos presentes nesse livro de capa já tão
conhecida – é o terceiro bate-papo sobre ele – pelos modestos, mas mais que
valiosos visitantes que dedicam alguns minutinhos de seus dias para aqui
pousarem seus olhos. Obrigado a todos vocês; de coração mesmo...
Isso justifica o porquê de a imagem final não
ser mais a capa desse livro, velho conhecido de todos, ok? Pois-sim...
O livro, como bem sabemos, foi publicado pela
editora Estação Liberdade, no ano de 2010. Tradução; prefácio; foram de
responsabilidade de Shintaro Hayashi.
Breve resumo...
Era uma vez, em determinado templo japonês,
um importante monge, com um nariz enorme. O budista de alta patente – naigu –
tinha um nariz enorme, e não se importava com isso. Mas será mesmo?
Depois de algumas tentativas por soluções
físicas e psicológicas, há que se chegue ao tal buscado remédio. Mas será?
Determinado instante, depois de muito sofrer
por conta do desconforto facial que o tornava único no mundo – um nariz similar
a uma salsicha, ninguém merece... – eis que surge a grande solução, trazida por
um discípulo. Ma-será mesmo solução?
Um conflito se estabelece.
Algo estranhamente interessante ocorre: logo
quando se torna normal algo estranho se sucede?
Curioso isso...
O que é o normal então?
Acreditamos que com esse resumo, com cara de
mais porvir impossível, já possamos nos iniciar informando que o conto é
interessantíssimo por colocar diante do leitor a tão corriqueira situação de
choque entre o que se entende por normal e estranho.
Em sua jornada pessoal, o narigudo naigu vivia
em um templo, com seus companheiros. Sim; tinha um aparelho nasal cavalar –
seis ou sete polegadas acima do lábio superior até abaixo do queixo. Mas, para
todos os efeitos, aparentava não se importar nem um pouco com isso.
Aparentava...
Percebemos que além da perturbação física, e
incômodos diários – tinha de erguer a lapa de nariz para as refeições – seu
nariz o causava incômodo na esfera psicológica. Queria ser normal, embora
fingisse que não.
Em sua grande busca para se mostrar uma
pessoa comum, ao menos para si, o monge buscou incansavelmente em outras
pessoas, e por outras personalidades religiosas antigas, um nariz que casasse
com o seu.
Até a mitologia foi acessada. A realidade, e
a ficção, foram duras com ele: sim; de fato; narizes aduncos existiam, tanto na
vida real quanto nas escrituras sagradas; mas... Tucano humano? Só ele, mesmo;
até então...
Até que um dia, depois de passar por uma fase
triste, cabisbaixo, macambúzio, com pé quebrado, eis que a alegria surge! O
remédio chegou!
Um discípulo lhe traz uma solução para seus
problemas. Simplesmente adoramos o fato de o monge alegar que não tinha tanto
interesse assim em mudar; só cedendo depois da insistência do seu subordinado.
Ok, a mudança se estabelece. A normalidade
chegou! É época de sorrir, de comemorar...
Porém, algo estranho ocorre: como assim? como
assim depois de ser único no mundo, ter que se acostumar a ser um somente mais
um Np planeta Terra?
Um reles mortal; simples normal; não-ladrão
de oxigênio...
Os olhares, normalmente estranhos, tornam-se
agora, estranhamente, estranhos.
Como bem dito nas próprias linhas da
narração, “Dois sentimentos contraditórios habitam o coração dos seres humanos.
Por certo há quem deixe de se compadecer pela infelicidade de uma pessoa. Porém,
se essa felicidade for superada de alguma forma, isso produz naqueles ao seu
redor uma espécie de insatisfação.” (pág.105).
Que coisa mais doida não?
Que EstranhaMente
temos aqui...
Novo conflito se estabelece.
Também pudera. Se ser estranho é ser diferente
do normal; há que se entender que devemos buscar o normal.
Mas, e se, ao se tornar normal, ao invés de
se tornar normal de fato, o sujeito se tornar ainda mais estranho, por ser, em
sua comunidade, reconhecido normalmente por ser estranho?
O que fazer?
Deu pa-me-entender?
Daí; ficam as perguntas:
O que é o ser normal afinal?
O que é ser estranho?
Ser normal é nascer normal?
E ser estranho é nascer estranho?
Nascer estranho; e morrer estranho é normal?
Nascer estranho, e se tornar normal, é estranho?
E aí? O que você quer dos outros, mundo cruel?
Que estranhaMente nós temos né?
Voltemos...
E assim segue o nosso bom monge anônimo, como
qualquer vítima de uma interpretação de mundo; como nós todos somos e agimos;
em sua brusca busca pela normalidade...
Pela sua normalidade...
Paramos por aqui...
O conto vale a pena; o livro; o livro vale a
pena...
Então fica aqui mais uma dica de leitura para
quem quer variar no repertório de leitura artística.
Você está muito bem servido com o tom, o dom,
o som artístico, do bom, Akutagawa Ryunosuke.
Super-recomendado!
Atenciosamente;
Emerson.
Ah: aviso aos normais: deixem os estranhos
viverem em paz.
Não metam o nariz na vida alheia...
Té-Mais...
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