sexta-feira, 5 de maio de 2017

O Nariz; Akutagawa Ryunosuke


Senhoras. Senhores.

Bom dia/tarde/noite. No breve texto que se seguirá, faremos; ou tentaremos fazer; um breve comentário sobre O Nariz; terceiro dos onze contos presentes nesse livro de capa já tão conhecida – é o terceiro bate-papo sobre ele – pelos modestos, mas mais que valiosos visitantes que dedicam alguns minutinhos de seus dias para aqui pousarem seus olhos. Obrigado a todos vocês; de coração mesmo...

Isso justifica o porquê de a imagem final não ser mais a capa desse livro, velho conhecido de todos, ok? Pois-sim...

O livro, como bem sabemos, foi publicado pela editora Estação Liberdade, no ano de 2010. Tradução; prefácio; foram de responsabilidade de Shintaro Hayashi.

Breve resumo...

Era uma vez, em determinado templo japonês, um importante monge, com um nariz enorme. O budista de alta patente – naigu – tinha um nariz enorme, e não se importava com isso. Mas será mesmo?

Depois de algumas tentativas por soluções físicas e psicológicas, há que se chegue ao tal buscado remédio. Mas será?

Determinado instante, depois de muito sofrer por conta do desconforto facial que o tornava único no mundo – um nariz similar a uma salsicha, ninguém merece... – eis que surge a grande solução, trazida por um discípulo. Ma-será mesmo solução?

Um conflito se estabelece.

Algo estranhamente interessante ocorre: logo quando se torna normal algo estranho se sucede?

Curioso isso...

O que é o normal então?

Acreditamos que com esse resumo, com cara de mais porvir impossível, já possamos nos iniciar informando que o conto é interessantíssimo por colocar diante do leitor a tão corriqueira situação de choque entre o que se entende por normal e estranho.

Em sua jornada pessoal, o narigudo naigu vivia em um templo, com seus companheiros. Sim; tinha um aparelho nasal cavalar – seis ou sete polegadas acima do lábio superior até abaixo do queixo. Mas, para todos os efeitos, aparentava não se importar nem um pouco com isso. Aparentava...

Percebemos que além da perturbação física, e incômodos diários – tinha de erguer a lapa de nariz para as refeições – seu nariz o causava incômodo na esfera psicológica. Queria ser normal, embora fingisse que não.

Em sua grande busca para se mostrar uma pessoa comum, ao menos para si, o monge buscou incansavelmente em outras pessoas, e por outras personalidades religiosas antigas, um nariz que casasse com o seu.

Até a mitologia foi acessada. A realidade, e a ficção, foram duras com ele: sim; de fato; narizes aduncos existiam, tanto na vida real quanto nas escrituras sagradas; mas... Tucano humano? Só ele, mesmo; até então...

Até que um dia, depois de passar por uma fase triste, cabisbaixo, macambúzio, com pé quebrado, eis que a alegria surge! O remédio chegou!

Um discípulo lhe traz uma solução para seus problemas. Simplesmente adoramos o fato de o monge alegar que não tinha tanto interesse assim em mudar; só cedendo depois da insistência do seu subordinado.

Ok, a mudança se estabelece. A normalidade chegou! É época de sorrir, de comemorar...

Porém, algo estranho ocorre: como assim? como assim depois de ser único no mundo, ter que se acostumar a ser um somente mais um Np planeta Terra?

Um reles mortal; simples normal; não-ladrão de oxigênio...
Os olhares, normalmente estranhos, tornam-se agora, estranhamente, estranhos.

Como bem dito nas próprias linhas da narração, “Dois sentimentos contraditórios habitam o coração dos seres humanos. Por certo há quem deixe de se compadecer pela infelicidade de uma pessoa. Porém, se essa felicidade for superada de alguma forma, isso produz naqueles ao seu redor uma espécie de insatisfação.” (pág.105).

Que coisa mais doida não?

Que EstranhaMente temos aqui...

Novo conflito se estabelece.
Também pudera. Se ser estranho é ser diferente do normal; há que se entender que devemos buscar o normal.

Mas, e se, ao se tornar normal, ao invés de se tornar normal de fato, o sujeito se tornar ainda mais estranho, por ser, em sua comunidade, reconhecido normalmente por ser estranho?

O que fazer?

Deu pa-me-entender?

Daí; ficam as perguntas:

O que é o ser normal afinal?

O que é ser estranho?

Ser normal é nascer normal?

E ser estranho é nascer estranho?

Nascer estranho; e morrer estranho é normal?

Nascer estranho, e se tornar normal, é estranho?

E aí? O que você quer dos outros, mundo cruel?

Que estranhaMente nós temos né?

Voltemos...
E assim segue o nosso bom monge anônimo, como qualquer vítima de uma interpretação de mundo; como nós todos somos e agimos; em sua brusca busca pela normalidade...

Pela sua normalidade...
Paramos por aqui...
O conto vale a pena; o livro; o livro vale a pena...
Então fica aqui mais uma dica de leitura para quem quer variar no repertório de leitura artística.

Você está muito bem servido com o tom, o dom, o som artístico, do bom, Akutagawa Ryunosuke.

Super-recomendado!

Atenciosamente;

Emerson.

Ah: aviso aos normais: deixem os estranhos viverem em paz.
Não metam o nariz na vida alheia...

Té-Mais...




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